Uma diversidade de
abordagens da TCC emergiu ao longo das décadas subsequentes, atingindo vários
graus de aplicação e sucesso. As TCCs podem ser classificadas em três divisões
principais: 1) terapias de habilidades de enfrentamento, que enfatizam o
desenvolvimento de um repertório de habilidades que objetivam fornecer aos pacientes
instrumentos para lidar com uma série de situações problemáticas; 2) terapia de
solução de problemas, que enfatiza o desenvolvimento de estratégias gerais para
lidar com uma ampla variedade de dificuldades pessoais; e 3) terapias de
reestruturação, que enfatizam a pressuposição de que problemas emocionais são
uma conseqüência de pensamentos mal adaptativos, sendo a meta do tratamento
reformular pensamentos distorcidos e promover pensamentos adaptativos.
Há mais de 45 anos, Ellis, originalmente um
psicanalista, desenvolveu o chamado modelo ABC, que propõe que qualquer
determinada experiência ou evento ativa (A) crenças individuais (B), que, por
sua vez, geram conseqüências (C) emocionais, comportamentais e fisiológicas.
Ellis também postulou que 12 crenças irracionais básicas, que tomam a forma de
expectativas irrealistas ou absolutistas, são à base do transtorno emocional. O
objetivo da terapia é identificar crenças irracionais e, através de
questionamento, desafio, disputa e debate lógico-empíricos, modificá-las pelo
convencimento.
Na TCC, o terapeuta e o
paciente trabalham juntos para identificar crenças que a pessoa tem de si e
utilizam técnicas que incluem:
·
Questionamento
socrático: O questionamento socrático é um dos procedimentos mais utilizados
para auxiliar o paciente a realizar descobertas sobre a estrutura do seu
pensamento, para flexibilizá-los e mudar crenças rígidas sobre si mesmo, os
outros e o ambiente. Na Terapia Cognitiva, o terapeuta não tenta convencer o
paciente de que os pensamentos estão incorretos. O terapeuta, através de
questionamentos, conduz o paciente para que ele mesmo faça esta descoberta (Descoberta
Guiada), buscando explorar os conceitos através dos quais a situação é
interpretada bem como as evidências que apóiam e desconfirmam os conteúdos
cognitivos. É uma técnica que encoraja o paciente a contemplar, avaliar e
sintetizar diversas informações, por meio de perguntas que o levam a pensar e,
dessa forma, ter clareza e tomar decisões racionais a partir de suas próprias
conclusões.
·
Realização
de diários: é solicitado ao paciente que anote em um diário determinada
situação, o que sentiu e o pensamento automático que teve. Uma das estratégias
usadas na Terapia Cognitivo Comportamental para mudar a forma como nos sentimos
e nos comportamos é o registro diário de pensamento disfuncional (RDPD). Nesse
registro você identificará os seus sentimentos, os pensamentos que geram esses
sentimentos e a partir daí fará um questionamento desses pensamentos. Com esses
questionamentos você poderá transformar esse pensamento em um outro pensamento
que te favoreça, que te guie a ter sentimentos e comportamentos mais
apropriados para lidar com aquelas situações. Quando você muda o seu
pensamento, o seu sentimento negativo diminui de intensidade e deixa de te
gerar tantos prejuízos ou ainda melhor, gera emoções positivas e comportamentos
mais adaptativos.
·
Psicoeducação:
a psicoeducação é uma ferramenta ou procedimento usado pelo psicólogo com a
função de simplificar a queixa do paciente. O psicólogo demonstra ao paciente a
sua patologia em todo o contexto, afim de que o paciente entenda e passe a
colaborar ativamente com todo o processo terapêutico. Dessa forma o paciente
consegue, durante as sessões de psicoterapia, discutir sobre a sua queixa e
encarar de melhor forma seu tratamento. A psicoeducação explica que se o
paciente entende a doença e seu processo ele conseguirá agir de modo com que
consiga evitar seus sintomas que podem ser expressos em crises, por exemplo. O
paciente que entende a doença e seu processo consegue se cuidar melhor.
·
Levantamento
das vantagens e desvantagens de continuar e/ou parar com o comportamento
inadequado: o terapeuta, juntamente com o paciente, pensarão a respeito das
vantagens e desvantagens de continuar ou parar com o comportamento inadequado;
assim, o terapeuta sugere para que o paciente escreva em uma folha os pontos
negativos e positivos de seu comportamento, afim de que o paciente perceba quão
bom ou quão prejudicial está sendo o seu comportamento em sua vida.
·
Seta
descendente: A utilização da técnica “seta descendente” é implementada através
de uma série de perguntas com o objetivo de descobrir o esquema básico
subjacente ( as crenças intermediárias) a partir dos pensamentos de nível mais
superficial chega-se a identificar a crença central. Essa técnica é introduzida
quando, a partir de um problema apresentado, segue-se perguntando: “Se isso ocorresse,
que significado teria para você?”
·
Experimentos
comportamentais: as técnicas comportamentais são empregadas, sobretudo, para
que o paciente altere algum comportamento de seu repertório e possa, com isso,
reexaminar as crenças sobre si mesmo e sobre os eventos, obter evidências
factuais para suas conclusões e reformular suas avaliações. Os experimentos
comportamentais, em que o paciente é incentivado a modificar as contingências
de seu próprio ambiente, são importantes técnicas avaliativas, pois testam
diretamente a validade dos pensamentos.
Modelo cognitivo de Aaron Beck
O modelo cognitivo foi
originalmente construído de acordo com pesquisas conduzidas por Aaron Beck,
para explicar os processos psicológicos na depressão, em uma tentativa de
provar a teoria freudiana de depressão como hostilidade retrofletida reprimida.
Ao invés de hostilidade e raiva, a pesquisa sobre os sonhos dos pacientes
deprimidos mostrou um “senso de derrota, fracasso e perda”. Os temas de
pacientes deprimidos ao dormirem eram consistentes com seus temas em vigília;
sonhos poderiam ser simplesmente um reflexo dos pensamentos do indivíduo.
Baseado em pesquisa sistemática e observações clínicas, Beck propôs que os
sintomas de depressão poderiam ser explicados em termos cognitivos como
interpretações tendenciosas das situações, atribuídas à ativação de
representações negativas de si mesmo, do mundo pessoal e do futuro (a tríade
cognitiva).
As descrições dos pacientes sobre si mesmos e de suas experiências
evidenciavam pensamentos e visões negativas de si mesmo, de suas experiências
de vida, do mundo e do seu futuro. Beck deu a esses pensamentos o nome de “pensamento
automático”, visto que não precisam ser motivados pelas pessoas para vir à
tona. Esses pensamentos são o resultado da forma do indivíduo interpretar as
situações do dia-a-dia, ou seja, o que fica “gravado” como importante
não é o que está acontecendo, mas a visão do indivíduo sobre aquele fato. Tais
visões demonstram distorções cognitivas da realidade vivida.
A partir do aprofundamento da origem desses pensamentos automáticos, é
possível chegar às crenças centrais do indivíduo, que são as idéias mais fixas
e enraizadas, oriundas do processo de desenvolvimento, experiências e formação
do individuo desde a infância, aceitas por eles como verdades absolutas. As
distorções cognitivas influenciam a resposta emocional, comportamental e
fisiológica do indivíduo. Pessoas com transtornos psicológicos com freqüência
interpretam erroneamente situações neutras ou até mesmo positivas, ou seja,
seus pensamentos automáticos são tendenciosos.
Como conseqüência
natural, Beck começou a questionar cada vez mais o modelo de motivações
inconscientes da psicanálise e o seu método terapêutico, principalmente a
ênfase da psicanálise em conceitualizações motivacionais e afetivas como causa
dos transtornos emocionais, que ignoram em grande parte os fatores cognitivos,
como foi substanciado por seus achados sobre depressão. Estabelecendo as bases
para a teoria e terapia cognitivas, Beck passou a diferenciar a abordagem
cognitiva da psicanalítica, focando o tratamento em problemas presentes, em
oposição a desvelar traumas escondidos do passado, e na análise de experiências
psicológicas acessíveis, ao invés de inconscientes.
REFERÊNCIAS
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content and cognitive distortions. Arch Gen Psychiatry. 1963;9:324-33.
Beck AT.
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Dobson
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In: Dobson KS, editor. Handbook of cognitive-behavioral therapies. 2nd ed. New
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Human change processes: the scientific foundations of psychotherapy. New York: Basic Books; 1995.