sábado, 30 de setembro de 2017

Recaída e Alta

O principal objetivo do tratamento na abordagem Cognitivo-Comportamental é a remissão da sintomatologia atualmente presente no paciente, além de auxiliá-lo no aprendizado, treinamento e prática de novas habilidades e técnicas que poderá utilizar durante sua vida. Desta forma, a pessoa poderá continuar empregando-as após o término do processo de psicoterapia, de maneira que mantenha as modificações e os progressos alcançados durante o mesmo e que permitam que ela lide mais eficazmente com próximos obstáculos cotidianos
Faz-se necessária a colocação destes objetivos de modo que o paciente compreenda, expondo que a terapia possui um planejamento de tratamento com tempo limitado, além de desmistificar a posição do terapeuta como único atuante e trazendo cada vez mais a participação ativa do paciente. Após o paciente ter adquirido conhecimento acerca da importância da realização dos exercícios e sua utilização, ter tido a oportunidade de consolidar suas habilidades, conseguir lidar com os problemas de sua vida sozinho e ter diminuição dos sintomas, poderá se pensar e planejar o processo de alta da psicoterapia .
O diálogo sobre o processo de alta e prevenção à recaída é abordado desde o princípio, quando é colocado que um dos objetivos do tratamento é a sua curta duração, fazendo com que o paciente acabe por se tornar, a partir do treinamento das habilidades ensinadas, o seu próprio terapeuta. É feita a psicoeducação acerca de possíveis retrocessos durante a psicoterapia, assim como após o término, juntamente com o reforço de seu progresso e capacitação para a resolução de futuros problemas.
Ao se aproximar o final do tratamento, é debatida em sessão a redução da frequência da terapia, podendo inicialmente servir como experimento, de forma que o paciente possa monitorar suas cognições a respeito do espaçamento. É possível que haja algum grau de ansiedade com esta nova combinação, o que exige manejo e emprego de técnicas por parte do terapeuta para responder aos pensamentos e às preocupações trazidas. A cada sessão, a frequência é discutida e novos ajustes podem ser feitos colaborativamente.

A retomada de algum comportamento sintomático posterior à remissão do mesmo é chamada de recaída, ação apontada como muito frequente após a extinção da conduta.
            A prevenção à recaída, baseada no modelo cognitivo-comportamental da recaída, propõe estratégias e intervenções a fim de prevenir lapsos iniciais e ensinar as habilidades necessárias para quando uma pessoa passa por uma situação recidiva.
Nas sessões que se aproximam do término do tratamento, então, o terapeuta e o paciente identificam e avaliam os ganhos que ocorreram no processo de psicoterapia, bem como atuam para prevenir que os sintomas retornem. Desta forma, o objetivo principal da abordagem é auxiliar o paciente a identificar situações pessoais de alto risco e ensiná-lo estratégias de coping para que o mesmo use em tais situações.
Primeiramente, há o trabalho em cima do modelo cognitivo-comportamental da recaída no que diz respeito à identificação de situações que propiciariam risco ao sujeito que estivesse no processo de redução ou remissão de uma conduta disfuncional. Uma situação de risco pode ser relacionada a locais, pensamentos, experiências, ou emoções que facilitem o lapso do comportamento anteriormente extinto.
Dessa forma, foi elaborada por Marlatt e equipe uma taxonomia de situações de alto risco, baseada numa hierarquia dividida em Revista Saúde e Desenvolvimento Humano 2016, três categorias utilizadas na classificação dos episódios de recaída.
O primeiro nível hierárquico da taxonomia citada seria relacionado à distinção entre os precipitantes para a recaída. Marlatt e colegas encontraram diferentes tipos de determinantes dentro da temática da recaída, divididos em dois agrupamentos: determinantes intrapessoais e determinantes interpessoais, sendo os intrapessoais ou ambientais relacionados às variáveis pessoais ou contextuais, como fatores cognitivos, e os interpessoais acerca do contexto social no qual o indivíduo se encontra. O segundo nível compreende oito subdivisões, cinco delas pertencendo à categoria de precipitantes intrapessoais (coping em estados emocionais negativos, coping em estados físico-psicológicos negativos, aprimoramento de estados emocionais positivos, teste do controle pessoal, e ceder à impulsos e tentações; e três delas equivalendo à categoria interpessoal (coping em conflitos interpessoais, pressão social, e aprimoramento de estados emocionais positivos). O terceiro nível da taxonomia proposta por Marlatt e equipe,fornece uma investigação mais detalhada de alguns dos itens propostos no nível dois.

De forma a facilitar a prevenção de recaídas, o terapeuta lança mão de certas técnicas do início ao fim do tratamento, com o objetivo do ensinamento, reforço e manutenção de habilidades. Assim, é proposto que tais estratégias sejam explicadas ao paciente, e que ele procure praticá-las no seu cotidiano, a fim de ter a oportunidade de testá-las e fortalecê-las.
Dentre as atividades realizadas, é de grande importância, desde o planejamento do tratamento, uma clara e informativa conceituação cognitiva do caso, numa tentativa de esquematizar e ilustrar o funcionamento do sujeito. Com tal esquematização, é possível que tanto o terapeuta quanto o paciente possam, juntamente, compreender o andamento da terapia e a aplicação das mais variadas técnicas e tarefas.
Além das atividades mencionadas, é possível o emprego de diferentes técnicas com o objetivo de reforço das habilidades, como: lista de méritos, cartões de enfrentamento, balança decisional, brainstorm para a resolução de problemas, técnicas de relaxamento. Faz-se também imprescindível o preparo para possíveis recidivas que o paciente possa vir a ter durante ou após o término do tratamento, de maneira que o paciente consiga lidar de maneira saudável com sintomas depressivos ou situações conflituosas e não tenha uma recaída. É indicado que seja discutida a possibilidade de um plano de autoterapia para quando o paciente recebe a alta, expondo a ele a importância e os benefícios da prática contínua. A execução acarreta a manutenção das habilidades aprendidas durante o processo de psicoterapia, a possibilidade de resolver dificuldades e também a prevenção à recaída.



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