quinta-feira, 28 de setembro de 2017

VOCAÇÃO PROFISSIONAL

Para ser um bom psicoterapeuta, é útil que a gente possua alguns traços de caráter ou de personalidade que, dito aqui entre nós, dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação: melhor mesmo que eles estejam com você desde o começo.
Sendo assim, elencaremos algumas particularidades que devemos encontrar em um bom psicoterapeuta:

1) Um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam de você.
2) Uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito. Você pode ter crenças e convicções. Aliás, é ótimo que as tenha, mas, se essas convicções acarretam aprovação ou desaprovação morais preconcebidas das condutas humanas, sua chance de ser um bom psicoterapeuta é muito reduzida, para não dizer nula.
3) Que tenha, nessa variedade, uma certa quilometragem rodada. Claro, sei que Freud era, ao que parece, bem certinho, e isso não impediu que ele se tornasse capaz de lidar como terapeuta ( e não como moralista) com sintomas e fantasias sexuais que na sua época condenava radicalmente. Também não impediu a "descoberta" da existência da sexualidade infantil, da qual ninguém queria sequer ouvir falar.
4) Boa dose de sofrimento psíquico. Desaconselho a profissão a quem está "muito bem, obrigado"

Portanto, se você estiver hesitando em escolher a profissão de psicoterapeuta só porque, por uma razão qualquer, você não é um modelo de normalidade, esqueça essa preocupação. Se você sofe sofre, se seus desejos são um pouco (ou mesmo muito) estranhos, se (graças à sua estranheza) você contempla com carinho e sem julgar (ou quase) a variedade das condutas humanas, se gosta da palavra e se não é animado pelo projeto de se tornar um notável de sua comunidade, amado e respeitado pela vida afora, então, bem - vindo ao clube: talvez a psicoterapia seja uma profissão para você.

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